De volta aos cachos

Padrões de beleza…

Desde criança começamos a ouvir uma série de regras que ditam como devemos ser. Um dia a gente cresce e percebe que não atendemos à muitas dessas expectativas, e nos frustramos! Uma não é alta, a outra não é magra, os seios são pequenos, os cabelos não são lisos. Aí partimos para as armas que nos oferecem pra ver se a autoestima sobe. Fazer o quê, né? Usa salto, entra na academia, coloca silicone, alisa os cabelos… Um ideal de beleza que chega a ser cruel para as brasileiras, que são feitas de mistura e não seguem padrões predominantemente europeus. Somos também negros, índios e até orientais! E é justamente aí que está a beleza do nosso corpo, do nosso jeito… E o jeito mesmo é valorizar!

Não sou contra intervenções cirúrgicas ou qualquer procedimento estético, que, com bom senso e acompanhamento de bons profissionais, ajudem a nos sentirmos melhor. Mas meu coração se enche de satisfação quando vejo manifestações que revelam mulheres cheias de personalidade quando passam por cima de tantas imposições para assumirem quem são e mostrar para tantas outras que toda beleza vem de dentro, e que a de fora só não enxerga quem não quer.

Três dessas admiráveis mulheres eu conheço, e nasceram com o cabelo enroladinho [um monte de cachinho na caixola], por muito tempo alisaram mas hoje exibem com orgulho seus cachos e volume cheios de charme. O processo não foi fácil e não começou pelos cabelos, é verdade. Mas pela autoestima! Por valorizarem suas origens, características e ao passarem por cima de tudo que um dia foi dito, e ainda hoje ouvem de pessoas que estão impregnadas de preconceito – até dentro de casa! Mas isso nem importa mais – que bom! -, porque eu amo ver elas assim.

E então, decidi fazer algumas perguntas para que elas pudessem compartilhar com a gente suas experiências, dicas e contar como tudo começou. Hoje apresento à vocês Uine, Juliana e Mariana!

uine santos

1. O que te fez despertar para a vontade de deixar os processos químicos de alisamento de lado e assumir novamente os cachinhos naturais?
Um mês antes da minha festa de 15 anos decidi retocar a progressiva. Ficou liso e lindo como eu adorava, mas o terror veio 15 dias depois! Eu passava a mão nos cabelos e eles caiam em tufos! Fiquei desesperada e comecei um tratamento intensivo pra tentar manter o pouco que ainda restava pra ficar bonita na festa! Depois disso decidi que iria assumir meus cachos e não alisaria nunca mais!

2. Qual foi o primeiro passo? Corte, hidratação… Conte um pouco sobre o processo.
O primeiro passo foi trocar de profissional. Percebi que ter um que soubesse cuidar de cabelos cacheados era indispensável! Depois disso passei a hidratar sempre (no salão ou em casa mesmo) e fui cortando aos poucos. Mas não foi fácil. Foram quase dois anos dando escova três vezes na semana até o cabelo estar com um tamanho bom para corte. Eu não queria ele muito curto, mas chegou um momento que eu precisei cortar estilo “joãozinho”, pois o cabelo natural estava ficando danificado com tanta escova e chapinha. Mas no final das contas amei e fiquei muito feliz com meus cachinhos!

3. Qual foi a sua fonte de inspiração e pesquisa para ajudar nessa transição?
Como tudo aconteceu mais ou menos na mesma época que essa vibe de “assumir os cachos” começou, não tinha muito material disponível. Até cheguei a procurar por vídeos, mas eram poucos. Duas atrizes que sempre me inspiraram é Thaís Araújo e Sheron Menezes, além de Beyoncé e Shakira. Acho o cabelo delas incrível! Mas muita coisa aprendi sozinha, testando e vendo o que melhor funcionava pra mim.

artistas cabelos cacheados

4. Esse processo envolve autoestima. Como foi a experiência quanto a forma de se ver e ser vista?
No início foi difícil: todas as meninas da escola tinham cabelos grandes e o meu estava bem curtinho – queria ter cabelos grandes também! Mas minha mãe me apoiou, ajudou a cuidar e escovar. Afinal ela batalhou muito quando eu era criança para meu cabelo ficar lindo cacheado e eu coloquei tudo a perder na adolescência! Hoje faço escova raramente, para mudar um pouco, mas as pessoas dizem que preferem meu cabelo cacheado porque fico mais bonita e autêntica. Eu estou muito mais satisfeita!

5. Quais produtos você adora e indicaria?
Sempre tomo cuidado em usar produtos próprios pra cabelos cacheados. Gosto da linha de hidratação e restauração da Pantene (1), creme de pentear da Seda para cabelos cacheados (2). Mas o meu produto preferido na época da transição foi o leave-in da Bed Head – Ego Boost Split end Mender (3)! Usei ele quando tinha o cabelo curtinho; dá um efeito maravilhoso!

produtos cabelos cacheados uine

6. Você tem um “ritual” de beleza para deixar os cachinhos sempre em dia?
Lavo os cabelos três vezes na semana. Uso o pente apenas durante o banho após aplicar o condicionador; depois passo o creme de pentear de mecha em mecha e tiro o excesso da água fazendo o mesmo movimento com uma camisa de algodão e deixo secar naturalmente! Para dormir prendo os cabelo levemente, apenas para não amassar demais e no dia seguinte se necessário, aplico umidificador de cachos e remodelo!

juliana fiuza

1. O que te fez despertar para a vontade de deixar os processos químicos de alisamento de lado e assumir novamente os cachinhos naturais?
A primeira coisa foi perceber o quão fragilizado meu cabelo estava, mesmo com mil hidratações, reconstruções, cremes, séruns e afins… Eu precisava gastar um bom dinheiro para mantê-lo com um aspecto saudável. Era um “prático” que custava caro. O ritual de ter que ir com regularidade ao salão também contou – é muito chato! Além da influência das amigas, que me deram muito apoio e dicas para enfrentar a transição e deixar de ser escrava da chapinha e do secador.

2. Qual foi o primeiro passo? Corte, hidratação… Conte um pouco sobre o processo.
A transição durou um pouco mais de 1 ano e meio e durante esse tempo tentei cumprir um cronograma capilar para que ele crescesse o mais forte possível. Enquanto isso, eu continuava a escová-lo para disfarçar a diferença entre a raiz e o comprimento com química, e de pouquinho em pouquinho cortava as pontas, para não ter uma mudança muito abrupta de visual.

3. Qual foi a sua fonte de inspiração e pesquisa para ajudar nessa transição?
Muitos sites me ajudaram nesse processo. Alguns deles foram: Rayza Nicácio, Shinestruck, Negra Rosa, Rosa Negra, Sun Kiss Alba e Liberte os Cachos. Vale a pena conferir!

 

canal-rayza

4. Esse processo envolve autoestima. Como foi a experiência quanto a forma de se ver e ser vista?
A primeira coisa que tive que lidar durante o processo foi com a opinião dos outros. Sim, isso pesa! Já ouvi pessoas dizerem que cabelo crespo/cacheado é desleixado, não tem cuidado. Pelo contrário!, domá-lo é uma arte. Mas venci isso e foi bem interessante ver como o meu cabelo realmente é. Não “duro”, feio ou estranho como eu pensava ser, de tanto falarem. Eu ficava animada a cada lavagem ao ver os cachinhos que cresciam mês a mês, e chateada pelas pontas lisas que não davam uma volta sequer. Foi e está sendo um processo diário de autoaceitação da imagem diante do espelho. E hoje eu gosto e me vejo como se nunca antes tivesse tido o cabelo de outra forma!

5. Quais produtos você adora e indicaria?
Até hoje não encontrei no mercado um creme de pentear que me deixasse satisfeita por completo; que desse definição e volume ao meu cabelo. Mas descobri que hidratações leves funcionam muito bem quando usadas como leave-in. E então complemento os cuidados com o sérum de mandioca da Natural Beauty (1); óleo puro de côco (2), que serve pra nutrir, hidratar e diminuir o frizz; o hidratante de manteiga de karité da Kanechon (3) e Yamasterol (4), para o dia seguinte à lavagem.

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6. Você tem um “ritual” de beleza para deixar os cachinhos sempre em dia?
Além de seguir um cronograma de hidratação, nutrição e reconstrução a cada mês, lavo os cabelos 3 vezes por semana, seco com toalha de microfibra para diminuir o atrito nos fios e reduzir o frizz. Aplico 3 ou 4 gotas do sérum no cabelo todo (às vezes uso óleo vegetal em substituição), espalhando bem pra ajudar a definir os cachos; divido o cabelo em partes e aplico a “hidratação de pentear”, fazendo fitagem nos fios com os dedos ou com a ajuda de um pente de dentes largos; depois deixo secar naturalmente ou se estiver com pressa, com a ajuda do difusor.

mari bitencourt

1. O que te fez despertar para a vontade de deixar os processos químicos de alisamento de lado e assumir novamente os cachinhos naturais?
Eu nunca gostei de frequentar salão de beleza. Era um tormento toda vez que tinha que ir – o processo era demorado! Além disso, encontrar um profissional que seja de confiança é uma outra batalha, mas consegui por meio de indicações uma profissional que atendia em casa – foi a era da escova progressiva! Era cômodo e tranquilo, mas tinha os mesmos problemas que eu encontrava no salão: couro cabeludo com feridas e descamação. Fora o cheiro forte da substância. Então resolvi que ficaria um tempo sem utilizar química nos cabelos para os fios se recuperarem!

2. Qual foi o primeiro passo? Corte, hidratação… Conte um pouco sobre o processo.
Inicialmente consultei minha dermatologista e ela receitou um remédio para fortalecer os fios que estavam muito fracos e danificados. Depois comecei a montar o meu cronograma capilar, pesquisando produtos naturais, fazendo muita hidratação caseira, umectação (nutrição com óleos vegetais) e reconstrução. Pesquisei sobre meu tipo de cabelo e de cacho (a tabela vai de 1, que seria o liso, até o 4C, que é o crespo estilo black power), para poder tratá-los devidamente. Enquanto isso todo mês cortava as pontas. É chato ter que lidar com duas texturas de cabelo, mas com tanta opção de penteados e acessórios fica menos dramático passar pela transição. Eu fiz e faço muito uso de coques e tiaras. Acho que os primeiros seis meses são cruciais. Tem que ter muita, mas muita paciência mesmo.

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3. Qual foi a sua fonte de inspiração e pesquisa para ajudar nessa transição?
O primeiro site que encontrei sobre transição capilar foi o da blogueira Daniela Azevedo. Ela mostrava em vídeos todo o processo de transição pelo qual passou. Me inspirei muito nela, assim como em muitas outras meninas que tem canais no Youtube: Priscila Silva, Michele Shirai, Beatriz Andrade, Bruna Caixeiro, Eva Lima, Fernanda Alves e Cinthya Rachel. Além das baianas: Jacqueline Moitinho e Mariana Araújo. A Mari é quem tem o tipo de cachos mais parecidos com o meu.

4. Esse processo envolve autoestima. Como foi a experiência quanto a forma de se ver e ser vista?
Não foi fácil. Quando você decide voltar aos cachos, não é de uma hora para outra; é uma batalha diária. É muito frizz, cabelo que arma, pontas alisadas e sem vida… Nos primeiros meses, é impossível você sair na rua com os cabelos soltos: a diferença da raiz para o comprimento do cabelo é gritante. E na TPM era pior ainda! O cabelo até preso parecia não querer colaborar. Manter a autoestima era difícil, por que quando eu encontrava pessoas, elas não olhavam para mim, olhavam para o meu cabelo – principalmente as mulheres. É muito desconfortável, mas acho pior quando a família faz pressão para voltar com os processos químicos. Minha mãe me questionou muito no início, mas eu me sinto feliz a cada dia, vejo fotos antigas com cabelão cacheado e isso impulsiona minha determinação.

5. Quais produtos você adora e indicaria?
Dois dos meus produtos preferidos vivem em um empate técnico… são as duas coisas que eu levaria para a ilha deserta, hahaha! O primeiro deles é o creme para pentear calmante creoula (1) e a máscara hidratante dream cream (2), mas também indico a hidratação morte súbita (3), todos da Lola! O óleo de amêndoas natural (4) que uso para umectação, e por fim, como fiz luzes uso shampoo e condicionador desamarelizador da Yezah Cosmetics (5). Ele é ótimo!, porque tira o laranja do cabelo e não resseca o fio.

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6. Você tem um “ritual” de beleza para deixar os cachinhos sempre em dia?
Procuro seguir um cronograma: a cada 15 dias faço cauterização e alterno o uso de shampoo hidratante/leitoso com o anti caspa ou anti resíduo, por que tenho a raíz oleosa. E o mais importante, usar o condicionador apenas após a retirada da hidratação, nutrição ou reconstrução, para selar as cutículas. Depois eu faço fitagem com leave-in para moldar os cachos. O único porém é que ainda não descobri um jeito de dormir, de modo que os cachos não amassem e o cabelo não fique armado no dia seguinte, as meninas sugeriram fronhas de cetim, por que causam menos atrito que o algodão, ou touca do mesmo tecido. Mas convenhamos, não dá pra dormir de touca quando você é casada, hahaha!

Ufa, quanta informação! O post ficou big, deu bastante trabalho mas estou muito orgulhosa dele e espero que possa ajudar quem quer voltar aos cachos mas não sabe por onde começar ou falta coragem. Inspire-se em mulheres como Uine, Fiuza e Mari, que hoje estão muito mais felizes! E para fechar com chave de ouro, um video fofo que a Dove preparou para incentivar meninas a amarem seus cabelos!

Coisa mais linda!

2 thoughts on “De volta aos cachos

  1. Eliana 2 de fevereiro de 2015 / 22:49

    Olá Amanda! Conheci seu blog por acaso e curti muito. Coincidentemente, estou voltando aos cachos este ano e adorei sua matéria. Também sou blogueira aqui de Salvador, bjs.
    http://www.belezacompartilhada.com.br

  2. abmmari 3 de fevereiro de 2015 / 0:31

    Já sou admiradora de seu trabalho e de sua pessoa há tempos! Quando você manifestou interesse sobre a transição é movimento pelo cabelo natural, fiquei tão feliz, porque sabia que o tema seria abordado tanto com atenção quanto com carinho. O mundo de hoje tão cehio de referências e padrões, quando você sai do que é dito como o certo, é estranho, a princípio, mas é libertador! E sabe de uma coisa, eu me amo mais hoje, eu brinco mais com minha imagem no espelho, me namoro mais é isso é tão bom! Sempre acho que demorei demais para tomar essa decisão, mas vai ver que precisava estar mais madura para me aceitar como sou e me respeitar mais! ❤️

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