Já contei pra vocês que estou em um processo de desapego, né? Faz algum tempo que penso sobre isso, mas agora foi pra valer! Não que eu era acumuladora, talvez tivesse o que a maioria de vocês tem (isso é algo difícil de medir), ou até um pouco menos. Mas resolvi me desfazer de TUDO que não uso ou não me faz muito feliz.
Tem gente que diz que não consegue, mas é só querer e entender o por quê do desejo de desapegar, que consegue sim! E foi lendo o livro, Mágica da Organização (ainda vou postar a resenha sobre ele pra vocês), que cheguei à quatro palavras e motivos que fizeram toda a diferença para esse processo que está muito ligado à autoconhecimento – algo muito especial pra mim -, estilo pessoal, praticidade, simplicidade e liberdade.

Muitas coisas doei, outras foram para um brechó que fiz com amigas que estão na mesma vibe de desapego que eu. E essa coisa toda foi tão séria pra gente, que acabou até virando assunto de matéria para o Caderno Bazar do Jornal Correio*. Oba!
Clique aqui para ler a matéria no site do Jornal Correio*.
Mas como no jornal o espaço é pequeno e a abordagem foi mais voltada para acumuladores (que às vezes pode ser até uma patologia), achei que seria legal compartilhar com vocês a entrevista que o jornalista Ronney fez comigo. Assim dá pra entender melhor parte desse processo que estou passando e quem sabe, se sentirem motivadas para fazerem o mesmo! Já começo dizendo que é libertador! :D Vamos lá?
1 – O que é ser uma pessoa organizada para você? Ser uma pessoa organizada vai além de saber onde as coisas estão. Algumas pessoas brincam com a teoria do caos, porque apesar de tudo, encontram o que procuram. É claro que existem vários métodos de organização e cada um pode criar o seu, mas ser organizado é manter um ambiente leve, com objetos necessários. E quando digo necessários, não estou me referindo ao que são úteis de forma prática. Isso inclui também o que agrada os olhos e faz bem ao coração.
2 – Você foi uma criança desorganizada ou acumuladora? Não tenho muita recordação sobre isso, talvez porque nem tinha consciência sobre o assunto. Mas de uma coisa eu lembro bem: em mudanças de um apartamento para outro, doava bastante coisa e ficava feliz por saber que poderia compartilhar com crianças que não tinham, e de bônus eu teria que empacotar menos brinquedos, rs!
4 – Como conseguiu se livrar do hábito de acumular coisas? Conseguiu sozinha ou precisou de ajuda? Eu cresci vendo minha mãe dar coisas que não usava mais para pessoas próximas. E como sou a caçula de três irmãs, sempre herdei roupas e brinquedos delas. É como se eu tivesse vivendo os dois lados do desapego: o incentivo de praticar isso e o benefício através de quem faz. Então, esse processo começou cedo e foi acontecendo de forma natural junto com meu desenvolvimento como pessoa. Desapegar é mais do que se livrar de coisas, é se conscientizar sobre algumas questões, sociais, econômicas e filosóficas.
5 – Como você desenvolveu técnicas de arrumação contra o acúmulo? Tinha dias que meu quarto estava de pernas para o ar, mas sempre tinha um dia que despertava uma vontade imensa de arrumar tudo. Meu desafio e triunfo era tentar otimizar ao máximo o espaço – era quase como jogar tetris, rs! Enquanto isso, fui percebendo que muitas coisas eram desnecessárias e que eu organizaria tudo de um jeito muito mais interessante se eu não tivesse elas.
6 – Qual é o “passo a passo” do desapego? Toda semana você foi se desfazendo das coisas aos poucos ou preferiu se desfazer de vez? Quando não tinha muita noção de que estava passando por esse processo de desapego, um dia no mês ou a cada 15 dias parava pra avaliar o que eu tinha, o que eu gostava de ter e o que não servia e poderia doar ou vender. É difícil se desfazer de tudo de uma só vez. Até porque, dificilmente a pessoa está pronta pra definir o que deve ou não guardar. É de fato um processo, e sempre existem aquelas peças que pegam a gente de jeito, como uma roupa que marcou uma ocasião superespecial, que não usamos e nem pretendemos, mas o lado emocional não deixa se livrar. Mas quando você começa a praticar e colhe os benefícios disso, chega em um ponto que o descarte é intenso e depois só rola uma manutenção.
Já tirei um montão de coisa daí depois da foto :D
7 – Como isso mudou sua relação com suas coisas? Comecei a dar mais valor às coisas que decido guardar, pois me deram motivos para continuarem ali. Motivos que estão ligados ao meu estilo, encantamento e crenças. Assim passei a identificar melhor o que me agrada e como consequência, comecei a comprar menos, porque muito do que tenho já me satisfaz.
8 – Como foi, durante a arrumação, o reencontro com as coisas que você já tinha esquecido ter? Mesmo antes de começar o processo intenso de desapego, como gostava de organizar as coisas que eu tinha, nunca existiram “peças esquecidas”, mas já aconteceu de terem estragado por ficarem muito tempo guardadas e isso só me fez ver que eu realmente não precisava delas – não mudava nada em minha vida! Algumas delas foram peças de couro, que se não saem para tomar um ar, não tem jeito: partem, fica com mofo e um cheiro terrível. Objetos foram feitos para serem usados. Se não por você, pode ser por outra pessoa! ;)
9 – Você se considera uma pessoa mais organizada hoje? Como e por que isso melhorou sua vida? Sim! Até porque, quando você guarda apenas o que realmente usa, não existe bagunça. As coisas sairão da gaveta e armário para um passeio e retornarão para onde estavam! Isso tornou meu dia a dia mais prático e deixou o meu ambiente de trabalho e quarto mais leves. Eu consigo até sentir uma energia diferente no lugar.
10 – Quanto tempo gastava para organizar as coisas acumuladas? Desistia ou acreditava que tinha feito um bom serviço? Apesar de ter muitas coisas, como sempre tirava um dia para organizar, cada coisa tinha seu lugar. Então, mesmo que o quarto estivesse de pernas para o ar, não demorava muito para arrumar. O problema, é que por ter muitas coisas, não demorava muito também para ficar tudo bagunçado de novo.
11 – Você tinha noção das coisas que não eram necessárias para você? O que lhe impedia abdicar delas? Acho que um dos piores pensamentos na hora de saber o que descartar e guardar é: um dia eu posso vir a precisar disso! E assim vamos acumulando coisas que de vez em quando damos a sorte de precisar de uma entre cem delas. Mas quando olhamos para uma roupa, sapato ou o que quer que seja, a gente sabe do que realmente gosta e não gostaria de se desfazer. O processo de descarte exige antes de tudo, honestidade com você mesmo.
12 – O que lhe move a adquirir novas coisas hoje em dia? Preciso me apaixonar pela peça, e depois, refletir se ela de fato terá alguma utilidade pra mim, se já não tenho outro objeto que cumpre o mesmo papel, como usaria ela, se combina com outras que já tenho. Faço uma análise geral. Mas é claro que tem peças que a paixão já é suficiente pra valer a pena levar. As coisas existem para servir a gente, e algumas delas tem o único objetivo de deixar o nosso dia a dia mais bonito, como um quadro, por exemplo. O desapego não está em podar a nossa satisfação, mas em nos libertar de um consumo desenfreado e o apego por coisas que podem ser realmente valiosas para outras pessoas.
13 – Você ainda sente vontade de acumular? Tem alguma estratégia para lidar com isso? Depois que você começa o processo e experimenta as consequências dessa prática, a sua visão muda. Ter o que não acrescenta nada em sua vida além de poeira, não faz mais sentido algum. Se torna futilidade e sinônimo de energia parada. Já tirei muitas coisas mas sinto que ainda posso, e quero, guardar menos. Por isso, nem precisa de estratégias para lidar com isso, as coisas vão acontecendo de forma natural. Você já passa a identificar o que quer e o que não quer e nem precisa manter com você. Basta estar disposto!
Foto: Angeluci Figueiredo
14 – Você criou um brechó para repassar algumas coisas. Isso atraiu outras amigas acumuladoras? O primeiro brechó que realizei aconteceu há 4 anos. Muitas pessoas iam comprar e ficavam satisfeitas por terem encontrado peças ótimo estado por um preço bem mais em conta. E eu, feliz por ver que aquela peça teria um destino melhor que o fundo do meu guarda-roupas, além de um dinheirinho extra para guardar na poupança ou investir em algo que realmente quisesse. Isso só me incentivou a fazer outras edições junto com amigas, como através do projeto Tem Quem Queira.
Foto: @mariliagabcruz
15 – Você considera esses encontros, nos brechós, como uma terapia de grupo mais leve e divertida? Como vocês se ajudam entre si? Eu adoro!, do início ao fim. Separar as peças, etiquetar, organizar e vender! É um dia cansativo, mas muito divertido. Conhecemos novas pessoas e temos a oportunidade de inspirar elas de diversas maneiras dentro desse assunto. Sem contar que estar na companhia de pessoas que admiro e que compartilham desse mesmo pensamento e filosofia de vida, torna o projeto mais especial.
Ufa! Muitas perguntas que eu adorei responder e me fizeram refletir um pouco mais sobre o assunto e os meus motivos. Desde essa conversa pra cá, já tirei um montão de coisa e minha meta não termina por aqui. :D Quando achar que cheguei ao fim, mostro pra vocês. Enquanto isso, que tal aproveitar essa vibe e dar uma olhadinha no armário também? ;)
Obrigada equipe do Correio*, pelo convite e por toda atenção que tiveram comigo!
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